Análise aos Resultados Eleitorais PDF Imprimir
20-Nov-2009

Balanço das legislativas

1- Chegados ao fim de um prolongado e intenso período eleitoral, no qual fomos chamados a um esforço assinalável, a Direcção Nacional da UDP saúda todos os militantes pelo empenho demonstrado em alcançar os objectivos traçados pelo Bloco de Esquerda.

2- A análise de dois actos eleitorais distintos, as Legislativas e Autárquicas, deve ser separada uma vez que, e como sempre dissemos, são actos com características totalmente diferentes.

3- Nas legislativas o Bloco de Esquerda alcançou por completo os objectivos que durante a campanha foram bem explícitos.   

    - Retirar a maioria absoluta ao PS

    - Reforço eleitoral e parlamentar do Bloco de Esquerda.

    - Ultrapassar os 500 mil votos, objectivo avançado durante a campanha.

4- A vitória do BE, de enorme alcance político, decorre de duas questões fundamentais:

Em primeiro lugar, foi resultado de uma linha ajustada de combate ao plano liberal-burguês, protagonizado pelo governo PS. Foi este combate persistente ao longo dos 4 anos e meio que vincou na sociedade portuguesa uma oposição credível, capaz, inovadora e alternativa.

Em segundo lugar, a justeza, como a vida veio a provar, dos objectivos políticos apontados pelo Bloco. Estes foram fruto de uma correcta análise da situação política, em particular do estádio do movimento social.

5- Esta vitória do Bloco de Esquerda assume também particular significado, uma vez que o eleitorado foi confrontado com um programa alternativo ao plano neoliberal em execução.

Este nosso programa político sofreu em uníssono, um combate político por vezes de forma vil e mentirosa de todos os analistas e comentadores, para além dos Partidos da situação e mesmo por alguns dos maiores capitalistas do país. Foi um ataque constante nos principais órgãos de comunicação social.

6- Por outro lado, também a comunicação social, ao pretender atribuir ao Bloco o alegado objectivo de se tornar a terceira força política, objectivo que não fora traçado, teve a clara intenção de criar falsas expectativas que a posteriori poderiam ter efeitos desmobilizadores.

O Bloco resistiu e essa resistência garantiu-lhe o dobro dos deputados.

É pacífica a análise que os cerca de 200.000 votos acrescidos à anterior votação do BE, são na sua maioria deslocação de ex-votantes PS.

7- O PS, ao assumir a liderança do plano liberal-burguês, colocou do seu lado o apoio da grande burguesia portuguesa e ao mesmo tempo retirou espaço político ao PSD, factos que originaram uma grave crise interna neste Partido e o tornou incapaz de disputar as eleições e aproveitar o descontentamento de sectores populares e intermédios quanto à governação PS.

8- O CDS numa lógica populista, com cariz xenófobo e ultraliberal capta votos de protesto de sectores importantes de votantes de direita, sem confiança no PSD, bem como franjas importantes de juventude, que sem perspectivas de vida, foram seduzidas pela lógica populista e individualista, encenada com laivos de anti-sistema.

9- O PCP, apesar de um ligeiro aumento de votação e a conquista de mais um deputado, manteve no essencial as suas forças anteriores. A sua lógica ideológica e organizativa impede-o de ser interlocutor para sectores em litígio e descontentes com a política neo-liberal do PS.

10- Apesar do reforço à esquerda, o modelo liberal burguês não foi derrotado. Num momento difícil para o PS, o apoio massivo da grande burguesia e de todos os instrumentos ideológicos e políticos que colocou ao seu dispor, põe em evidência o seu pavor de que haja uma ruptura no PS e uma deslocação clara à esquerda de diversos sectores.

11- A manutenção da actual estratégia do Bloco de Esquerda de subtrair ao PS parte substancial da sua base social de apoio, é pois essencial que seja prosseguida. Ela é, em nosso entender, o único caminho que permitirá criar as condições para abrir brechas à derrota do plano liberal-burguês.

12- Sendo certo que a política neo-liberal vai prosseguir, ancorada na vastíssima maioria PS-PSD-CDS, o cenário político, abriu novas perspectivas ao movimento popular, pois o PS não pode como até hoje fazer de rolo compressor aos movimentos de protesto, a sua fragilidade política aumentou.

13- No quadro do novo cenário político, e coerentes com a estratégia seguida no plano político, cabe ao Bloco de Esquerda continuar a fustigar o PS com as alternativas políticas que apresentámos. Permanecer a marcar a oposição entre medidas e propostas que consubstanciem uma política socialista e popular em confronto com a política liberal que o PS vai obrigatoriamente prosseguir.

14- Convictos que estamos que o PS vai manter o essencial do rumo trazido até aqui, a perda da maioria absoluta e a nova composição da Assembleia da República exigem da nossa parte, para atingir os mesmos objectivos, uma maior argúcia na táctica parlamentar.

15- O novo quadro político e as suas diferenciações não são hoje possíveis de antever em todas as suas particularidades. Todavia, para as Eleições Presidenciais desenham-se movimentações no horizonte político. Facto a que devemos dar a maior atenção, no sentido de contribuirmos para soluções de cariz mais democrático que a actual.

 

O Bloco e as eleições autárquicas

1- Nas autarquias o Bloco de Esquerda ficou aquém dos seus objectivos:

- Eleição de vereadores em Lisboa e Porto

- Aumentar substancialmente o número de mandatos e votos

2- A derrota do Bloco nestas eleições, não elegendo vereadores nas duas principais cidades e com o ligeiríssimo reforço de mandatos e votos, é ainda mais contrastante quando há 15 dias antes, obtivemos um resultado de grande dimensão.

As características claramente diferenciadas destas eleições de todas as outras de carácter nacional, foram particularmente marcantes e o efeito esperado da onda das legislativas foi nulo.

3- A disputa eleitoral ocorreu num quadro de grande bipolarização, no geral do país entre o PSD e PS e nalguns casos entre o PS e o PCP. Esta bipolarização foi empolada no terreno até à exaustão pelos órgãos de comunicação social.

Acresce a este cenário, a ainda fraca implantação no trabalho autárquico.

4- Pese embora o esforço assinalável feito em conseguir estar presente em cerca de mais 37 concelhos, estes dois factores foram decisivos e explicam esta derrota.

 5- No caso particular de Lisboa, a análise da DN na sua reunião de 15 de Junho passado em que foram postos em destaque:

- Uma bipolarização de fortíssima intensidade.

- A não existência nos dois últimos anos de alternativa às políticas do PS, por parte do Bloco na Câmara.

- A debandada para o PS de sectores importantes da sociedade, com medo de Santana Lopes e a paralisia que este facto provocou também no Bloco.

- A pressão política para a unidade das forças de esquerda, na governação, que objectivamente servia a Costa para a Câmara.

Foram factores decisivos na nossa derrota, aos quais se somaram as fragilidades mais gerais do Bloco também em Lisboa.

6- Sem prejuízo de análise mais fina dos resultados, a DN da UDP chama a atenção para a necessidade de aumentar o debate político no interior do Bloco, de forma a aumentar a capacidade média geral de intervenção política dos aderentes do Bloco. E, por outro lado, a necessidade imperiosa de aumentar o número de aderentes do Bloco.

7- Atinge particular acuidade, o debate sobre o Partido que interessa à esquerda em Portugal. É tanto mais importante porque, após a derrota nas autarquias, as ideias que põem o centro na organização tendem a ganhar terreno.

Como temos defendido, a Esquerda em Portugal precisa de um Partido forte, radical e plural que combata o dogmatismo e que esteja projectado para o alargamento político.

Este modelo construir-se-á em polémica com o modelo Leninista, dogmático, sectário que coloca a organização como um fim. Este debate não está terminado, é uma tarefa diária.

 

17 de Outubro de 2009

A Direcção Nacional da União Democrática Popular

 

 

 
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