6ª Conferência: Intervenção de Abertura da Presidente da UDP PDF Imprimir
14-Mar-2011
Nesta sexta Conferência da Associação Política UDP, somos chamados ao debate sob o lema da vida da luta de classes. A centralidade da contradição de classe é uma permanência na história da nossa corrente ideológica e é por isso responsabilidade maior dos comunista da UDP afirmar a vida da luta de classes no momento do maior ataque lançado pela burguesia nas últimas décadas.
O capital recupera-se da sua crise numa forte ofensiva contra o modelo do Estado social europeu, contra o salário directo e indirecto dos trabalhadores, e contra o futuro de uma geração. No campo político, a burguesia cerra fileiras à democracia, procurando limitar o pluralismo das democracias nacionais e agravando drasticamente o défice democrático europeu.

Como não podia deixar de ser, este combate travado nos níveis económico e político tem também reflexo na luta ideológica. A burguesia não desvaloriza esta ofensiva, e no caso português, o Bloco de Esquerda tem sido o seu alvo preferencial.

Estamos sob um grande ataque. É unânime entre os comentadores do regime, os jornalistas, os líderes dos partidos do poder, que um fantasma assombra a política portuguesa. O fantasma dos marxistas do Bloco de Esquerda.

Por todo o lado, acusam-nos  de impedir o progresso do Bloco de Esquerda, de sermos o travão da esquerda, acusam-nos de dogmatismo genético, de saudosismo estalinista, de desviar o Bloco do caminho da modernização. Em suma, acusam-nos de abrir o caminho para a ruptura com o poder instalado, de perverter a estabilidade e a previsibilidadezinha do sistema que lhes convém.

No Público, no I ou na Visão, florescem os artigos a denunciar os revolucionários escondidos do Bloco de Esquerda, a linha dura do partido, esses malandros que impedem o tão esperado pacto do BE com o social-liberalismo.

José Manuel Fernandes escrevia no Público: “não é correcta a ideia de que a apresentação da moção de censura foi apenas uma manobra táctica de antecipação ao PCP.... Na véspera da eleição presidencial a 22 de Janeiro, a chamada direcção nacional de uma das organizações que integram o BE, a UDP, tinha aprovado as suas teses para uma Conferência marcada para o dia 26 de Fevereiro. Ora, nessas teses, a apresentação de uma moção de censura não surge como uma hipótese, mas como orientação clara." Mais adiante, José Manuel Fernandes acrescenta ainda que a “moral deste episódio é simples: as forças políticas dominantes no Bloco (os trotskistas do PSR e os antigos maoístas da UDP) não mudaram nem se modernizaram, antes continuam fieis a uma orientação revolucionária, de ruptura com o capitalismo”.

António Costa, na SIC, lamentava que o Bloco não tivesse seguido o seu caminho natural, o caminho de ser o CDS do PS, de ser o partido que garantiria a maioria necessária para a continuação da rotatividade do poder no sistema, sempre obediente aos mesmos donos, aos mesmos interesses.

Todos eles perceberam que o caminho do Bloco não é ser a muleta do PS.

Todos eles choram a morte dessa possibilidade, e atiram as culpas do seu luto para cima de nós, os marxistas do Bloco, os que perturbam o sistema. A todos eles, nós respondemos que é essa exactamente a razão de ser do marxismo, é esse o papel de uma força revolucionária e é para isso que aqui estamos!:

Se ser marxista é recusar o embuste da terceira via, nós somos marxistas; se ser marxista é defender uma política de classe e ser intransigente na sua defesa, sim, nós somos marxistas. Se ser marxista é acreditar que na construção da esquerda grande e de uma maioria social não cabem pactos de regime com as  políticas reaccionárias da burguesia, pois bem, somos nós, assumimos, somos marxistas!

E assumimo-lo com o orgulho de quem fez sempre o seu caminho na construção de plataformas abertas, de quem não teve medo de se abrir ao pluralismo democrático. Porque sem os marxistas nunca teria havido Bloco de Esquerda e sem os marxistas – que também nós somos -  não haverá Bloco de Esquerda no futuro.

Chamam-nos dogmáticos por sermos marxistas, como se fossem sinónimos.

Ignoram deliberadamente o nosso presente e o percurso desta esquerda que sabe construir resposta e alternativa, que sabe convergir sem perder identidade nem trair a sua política de classe. Repudiam a crítica que representamos, a crítica marxista que não poderia nunca ser conciliável com o dogmatismo de que nos acusam.

A verdade é que nos recusamos a cumprir o sonho deles e que isso os irrita. Queriam que fossemos assim, estagnados, dogmáticos, centralistas, defensores do partido único e aclamadores de regimes não democráticos. Dessa forma não incomodaríamos ninguém, empurrados para o lugar de uma relíquia, acantonados na história de uma revolução por acabar e para nunca acabar.

Queriam que fossemos um partido de respeito, que venerasse acima de tudo uma qualquer governabilidade, queriam que fossemos um partido de respeitinho muito lindo, o partido dos que saem à rua de cravo na mão sem dar conta de que saem à rua de cravo na mão a horas certas.

Queriam que fossemos social-liberais ou estalinistas, centristas ou dogmáticos, cúmplices ou inofensivos, queriam que fossemos de qualquer forma, de todas as forma, menos como somos.

E isso não pode ser. Lamentamos, mas estamos aqui hoje também para dizer que isso não pode ser.

Não é tarefa dos marxistas garantir o conforto dos que se perpetuam no poder. O nosso debate é o debate da luta de classes, o nosso lugar é na vida da luta de classes, é o debate dos trabalhadores, é a disputa ideológica em nome de uma classe: a classe dos explorados.

Isto é o resgate do marxismo, o debate que aprofunda as bases teóricas do socialismo democrático, que é o nosso objectivo. Dizemo-lo com clareza, sem truques retóricos: que a construção do socialismo que defendemos far-se-á através de uma maioria social, plural, consciente de que a democracia representativa e participativa é a forma política da sua liberdade e o principal instrumento da sua libertação.

Dizemos com clareza que a democracia socialista não é conciliável com a ditadura burocrática que se gera necessariamente quando o Estado se confunde com um partido.

Dizemos com clareza que a liberdade de partidos e de movimento sociais é a melhor garantia para as conquistas revolucionárias do proletariado.

Ao afirmar com toda a clareza a alternativa de um socialismo que aprendeu com a história de todas as suas lutas, conquistas, falhanços, avanços e retrocessos, ao afirmar este socialismo democrático, estamos a construir uma resposta para milhões.

Quando desta forma desafiamos a hegemonia liberal, desmascaramos o vazio da alternativa de quem tenta afirmar-se do “socialismo democrático” quando há muito enfiou o socialismo na gaveta e indevidamente se apropria da democracia como um slogan e um argumento da sua rendição ao neoliberalismo.

E por esta clareza que somos tantas vezes atacados. É por isto que todos os Pachecos Pereiras e Josés Manueis Fernandes seguem atentamente A Comuna e as teses da UDP e é também por isto que estão atentos a todos os revolucionários do Bloco.

Não, eles não se enganam sobre o nosso papel ou sobre a direcção que tomamos.

Assumamos todas as certezas que eles já têm sobre o nosso propósito. Antecipar os novos caminhos do marxismo é a nossa tarefa.

É aqui que está a força da esquerda democrática e a força dos que assumem a vida da luta de classes. É este o nosso ataque, que desafia e a atinge directamente o centro ideológico da burguesia.

Quando desmascaramos a Terceira Via como via directa para o neoliberalismo, estamos a atacar a ideologia e o poder da burguesia. Quando denunciamos a governabilidade falhada do centrão e a necessidade de uma nova governabilidade à esquerda, estamos a atacar a ideologia e o poder da burguesia. Quando prosseguimos com a crítica e a superação das teorias leninistas do Estado e do partido, e afirmamos o socialismo democrático como alternativa, estamos a confrontar directamente a ideologia da burguesia por oposição à ideologia dos trabalhadores.

Quando recusamos a falsa esperança do imperialismo de rosto humano, denunciando Obama como máscara útil a um imperialismo mais eficaz, estamos a dar continuidade ao nosso combate contra o imperialismo global.

Foi também no aprofundar da análise sobre os contornos do imperialismo global que nos debruçámos sobre o papel do eixo China – Estados Unidos, e que denunciámos o novo Conceito Estratégico da NATO como um reforço da política de guerra contra os povos.

Quando respondemos prontamente ao desafio de analisar a crise europeia, estamos a armar-nos para um combate contra uma burguesia em processo de redefinição ideológica. Quando desmontamos e respondemos à doutrina de justificação do poder de Santos Silva, estamos a destruir o mito de um PS de esquerda.

Estes foram os combates da UDP. Ideológicos. Marxistas. Durante o tempo destes combates, a UDP não teve como tarefa o lobby ou a discussão de lugares, nem a duplicação das estruturas democráticas do Bloco de Esquerda, o nosso partido.

Durante este tempo, a UDP esteve empenhada na resposta ideológica. A sua principal arma foi A Comuna e foram os seus debates. Os protagonistas desta luta foram todos aqueles e aquelas que dedicaram a sua militância activa ao aprofundamento da crítica marxista.

Porque é esse o papel de uma corrente de pensamento marxista, acompanhar o pulso e a respiração da luta de classes, ser a consciência crítica de um dos lados, do lado dos explorados. A Comuna e os seus militantes são a primeira linha deste combate.

Aprofundando debates, aproximando contributos, respondendo diariamente à vida política, à vida da luta de classes, os militantes d’ A Comuna assumem a vontade de travar um combate maior, o combate das ideias, o combate travado com a maioria intelectual da burguesia, um combate fundamental para os marxistas.

No dia em que a UDP deixar de dar novos contributos para o marxismo, vão ver como já ninguém escreve sobre nós. E no dia em que todos os marxistas do Bloco se demitirem do seu papel, assistiremos certamente ao desaparecer do pensamento estratégico revolucionário do Bloco de Esquerda.

E aí todos os comentadores do regime podem dormir descansados porque nenhum fantasma irá incomodar o poder dos donos de Portugal.

Confio na determinação dos marxistas do Bloco de Esquerda para não deixar os donos de Portugal e os seus porta-vozes dormirem descansados. Os ataques deles enfrentamo-los de peito aberto, sem hesitações. Porque sabemos que o seu medo é justificado: enquanto os arautos do pensamento liberal nos tiverem por inimigos é porque o nosso ataque continua certeiro no combate à burguesia.

Quem quiser continuar a traficar o social-liberalismo, está à vontade, nós não concorremos nesse mercado. Nós tomamos partido pelo socialismo democrático, nós assumimos a vida da luta de classes.

Todos os dias, a nossa corrente marxista constrói-se em torno de um pensamento revolucionário cada vez mais sólido e aprofundado. Constrói-se com a força de quem nunca fugiu a nenhum chamamento imposto pela luta de classes, com a coragem de quem ousou avançar nas ideias e lutou pela sua concretização política.

Nos momentos chave e sempre que a luta assim exigiu, tivemos o aprofundamento ideológico necessário para pensar a estratégia política. Fizemos deste também o nosso contributo para o debate plural no campo da esquerda.

São momentos de encontro entre marxistas, como o de hoje, que fazem avançar este pensamento. A todas e todos agradeço a presença e desejo um bom e sério debate nesta VI Conferência da UDP.





 
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