6ª Conferência: Intervenção de Encerramento pela Presidente da UDP PDF Imprimir
14-Mar-2011
No encerramento desta Conferência não podia deixar de dizer umas palavras sobre as revoltas populares no Norte de África e o que isso significa para a nossa perspectiva ideológica.
E sobre isto Brecht tem uma frase clarificadora. Dizia ele no seu Diário de Trabalho de 1940 que “nos países democráticos não é revelado o carácter de violência que a economia tem; Nos países autoritários acontece o mesmo com o carácter económico da violência”.
Esta pequena frase é reveladora de um olhar marxista sobre as ditaduras, e é muitas vezes utilizada por Eduardo Galeano quando na sua análise sobre a América Latina, nos relembra o princípio mais geral de que os ditadores ocupam o poder em virtude de uma necessidade do sistema, e que o terrorismo de Estado entra em acção quando as classes dominantes já não podem realizar os seus negócios por outros meios.

Contrariamente aos discursos construídos como lógicas de justificação destes regimes, que se baseiam frequentemente em argumentos relacionados com a perversão individual ou a loucura deste ou daquele ditador ou torturador, os crimes não são responsabilidade de um ou de meia dúzia.

Os crimes fazem parte da genética do sistema capitalista e das formas que este assume em contextos onde a violência explícita é a forma mais eficaz de perpetuar a exploração.

 Das revoltas a que temos assistido e que tanto nos têm entusiasmado, qualquer que seja o seu desfecho podemos retirar desde já uma lição: a História não está do lado dos cínicos. As ditaduras que todos os cínicos dizem que são para sempre também caem, quando o povo ganha consciência e luta para as derrubar.

Compreender que as classes e os povos podem ter a História nas mãos, quando às condições objectivas da sua exploração juntam a subjectividade de uma consciência determinada, compreender isto é estar munido de um olhar marxista, instrumento fundamental para a conquista do futuro.

A cada momento, a cada sobressalto da História, a vida prova-nos a necessidade de resgatar este olhar revolucionário, sem o qual estaríamos condenados a desperdiçar a nossa força transformadora no voluntarismo inconsequente ou no determinismo económico.

Aprofundar e divulgar a perspectiva marxista tem sido a nossa tarefa enquanto corrente ideológica.
Na resposta a esse desafio, A Comuna tornou-se o centro da nossa actividade e queremos que, ligada a ela, surjam novos espaços de pensamento e de debate, novas formas de divulgação e uma participação cada vez mais alargada, criando novos protagonistas para a luta ideológica.

Por isso assumimos também como responsabilidade nossa a formação de jovens revolucionários. Fazemo-lo porque compreendemos que o futuro da esquerda depende da existência de uma geração para quem a ideologia socialista possa ser não a sombra de regimes longínquos mas uma alternativa de esperança; o futuro da esquerda depende dessa geração para quem o socialismo seja mais do que uma ideia, seja um projecto em acção.

Não há sectarismos possíveis na concretização dessa tarefa. Todos os que forem pelo socialismo são necessários e bem-vindos a este combate.

Se o desafio ideológico é difícil ele não se traduz por uma luta política e social menos dura. A actual geração de precários, a primeira condenada a viver pior do que a dos seus pais, é a face mais visível do carácter violento da economia capitalista. Mas não é a única a sofrer o ataque austeritário quem o capital impõe em nome do seu lucro.
Pensionistas pobres, desempregados de longa duração, trabalhadores rejeitados pelo mercado, todos sofrem da estrutura de humilhação sucessiva que começa nos mercados financeiros e termina na casa de cada um.

É verdade que ainda não chegamos ao momento em que esta humilhação se transforma em revolta popular, mas importantes passos tem sido dados na mobilização, na tomada de consciência e na capacidade de protesto dos explorados. A Greve Geral realizada a 24 de Novembro, com um grande cariz político, foi expressão desse protesto e dessa consciencialização. Depois dela, só a acumulação de forças e a realização de uma segunda Greve Geral podem dar seguimento à luta dos trabalhadores.

A voz deste protesto popular que se trava nas ruas chegou ao Parlamento através da Moção de Censura do Bloco de Esquerda, e com a sua apresentação o Bloco provou mais uma vez ser capaz de comprimir o seu desígnio que é, não a traficância com o pensamento social-liberal, mas a luta por um socialismo democrático e popular.

Para o projecto socialista protagonizado pelo Bloco, para a dinamização da esquerda grande e a conquista de uma maioria social, o contributo dos revolucionários é condição necessária, e todos eles são chamados a assumir juntos a responsabilidade pelo futuro.

 Os cínicos bem nos podem querer condenar a um mundo sem esperança. O capital rouba-nos a vida todos os dias, extorquindo a mais-valia e oprimindo-nos com todas as imposições conservadoras a que se dá ao luxo sempre que pode. Mas a História é nossa. Assim impõe a vida da luta de classes. Contra os cínicos, tomemos a História nas mãos.
 

 
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