Resolução DN 13 de Outubro 2013 - Balanço das Eleições Autárquicas PDF Imprimir
31-Out-2013

Resolução DN 13 Outubro, destaque para o ponto 6: "A DN da UDP aprova a realização da VIII Conferência da UDP, a acontecer nos dias 7 e 8 de dezembro, que prosseguirá a discussão sobre o papel e as tarefas da UDP e aprofundará o debate sobre a evolução da situação europeia".

 

1. O manifesto Começar de Novo criou um sujeito político novo, maior que a simples soma dos partidos e ativistas que o formaram. O Bloco de Esquerda veio ocupar um espaço político que estava vazio. O enraizamento local das forças que o formaram era desigual: numas inexistentes, noutras fragilizado por um longo ciclo de declínio eleitoral. O impulso do Bloco de Esquerda fez ganhar muito terreno, mas este é um processo demorado. Não foi o número de militantes, nem uma forte implantação local, que permitiu a conquista gradual de mandatos nas autarquias e, noutra dimensão, para o Parlamento. O trabalho local existiu, mas a força de fundo era a dinâmica nacional, uma linha política que fazia florescer uma esquerda alternativa e que conquistava confiança para ser porta-voz do protesto.
 
2. A realidade é diversa e cada eleição tem os seus fatores próprios, mas a dinâmica geral é de recuo do Bloco de Esquerda. Assim, os resultados eleitorais do passado dia 29 de setembro ganham maior relevância por terem ocorrido depois de uma sequência de resultados negativos desde o início de 2011. Os resultados eleitorais do Bloco de Esquerda nestas últimas eleições autárquicas configuraram uma derrota. Em contraciclo, assinala-se a eleição de uma vereadora em Torres Novas, um vereador em Portimão e em Olhão, fruto da capacidade organizativa e de um trabalho local que merece ser assinalado. Igualmente se deve valorizar todos os locais onde, mesmo sem eleitos, o trabalho local teve como resultado um aumento de votação. Deve-se, também, assinalar o resultado obtido no Funchal, onde uma ampla coligação conseguiu infligir uma derrota no centro do regime jardinista. No entanto, a nível nacional, o Bloco regrediu eleitoralmente, perdendo votos e mandatos. Falhou em alcançar importantes objetivos, a que a direção se havia proposto, como a eleição de um vereador por Lisboa, a vitória em Salvaterra de Magos e a manutenção dos vereadores eleitos em 2009.
 
3. Concorreram para estes resultados eleitorais vários fatores, externos e internos, que importa analisar:
 
a. Abstenção, nulos e brancos: Sendo certo que há uma abstenção que decorre da brutal vaga de emigração, há também uma clara intenção de protesto e luta antissistema, estendidas aos votos brancos e nulos, cuja dimensão é motivo de alerta. Este descontentamento e desencanto que já foram espaço de crescimento do Bloco, são agora uma dimensão da crise do sistema à qual o Bloco não está a conseguir dar resposta. Como a história nos ensina, é este o caldo onde pode medrar o populismo e a extrema-direita.
 
b. Pressão da rotatividade: resultados do PS, PSD e CDS não deixam antever uma derrota clara da austeridade, mas um reforço do centro, em que a mudança se concretiza pela rotatividade no quadro dominante. A análise da pasokização do PS e de enfraquecimento do centro provou-se errada. A rotatividade ao centro ainda é o inimigo da acumulação de forças à esquerda. O rotativismo também favoreceu o PCP, nas autarquias em que há quatro anos tinha sido a segunda força política, tendo beneficiado ainda, ao nível nacional, da capitalização de algum voto de protesto.
 
c. Falta de enraizamento: As autárquicas são umas eleições difíceis por natureza para o Bloco de Esquerda, cuja implantação e enraizamento ainda são desafios. A dificuldade de constituição de listas eleitorais, em muitos concelhos, é prova disso mesmo. A análise dos resultados permite-nos dizer que onde o Bloco estava mais organizado teve mais capacidade de resistir à dinâmica de recuo eleitoral.
 
d. Instabilidade no Bloco: A mudança da coordenação no Bloco seria sempre uma um momento exigente e colocava dificuldades na afirmação do partido. No entanto, o partido também foi afetado pelo ambiente criado por um conjunto de polémicas públicas que durante todo o período que antecedeu a campanha passaram a imagem de um bloco fragilizado e dividido.
 
4. Três principais conclusões para o futuro:
 
a. O Bloco tem de escolher que partido quer ser. Não se constrói um partido de massas sem enraizamento social e popular. Para isso é preciso uma direção empenhada e instrumentos de autonomia e de acompanhamento efetivo do trabalho local, onde a democracia interna e a participação sejam uma realidade constante. Onde o Bloco foi mais forte, onde obteve vitórias foi onde conseguiu ser este partido.
 
b. O Bloco não se pode afirmar por um discurso que desagrade à sua esquerda e à sua direita. Os constantes apelos ao centro não permitem a afirmação do Bloco enquanto partido de esquerda sólido na alternativa e confiante no protesto, e contribuem para a imagem do Bloco enquanto “partido do sistema”. E erosão da base eleitoral jovem do Bloco não é alheia a este facto. A autonomia é sinal de projeto político próprio e não de rigidez tática.
 
c. A linha de alianças definida na convenção foi correta. Os resultados eleitorais mostram que as listas de cidadãos são uteis quando nascem de movimentações locais espontâneas com projetos concretos, mas não fazem milagres. Uma linha diferente ter-nos-ia metido nas mãos do PS durante os próximos quatro anos, com prejuízo para a afirmação e para o projeto estratégico do Bloco. Esta linha não foi isolacionista, como alguns pretendem fazer crer. Foi a linha de um partido que defende o seu projeto autónomo e quer existir no plano local onde o enraizamento social nos poderá fazer um partido de massas. Apagar o Bloco e despartidarizar a intervenção politica e social de massas dos nossos militantes não resolverá nenhum problema de afirmação política. O unitarismo sem bandeira não acumula para o projeto.
 
5. DN da UDP saúda todos os ativistas que com verdadeiro esforço militante enfrentaram estas eleições e fizeram um trabalho de alargamento e solidificação que nem sempre se traduziu em resultados eleitorais.
 
6. A DN da UDP aprova a realização da VIII Conferência da UDP, a acontecer nos dias 7 e 8 de dezembro, que prosseguirá a discussão sobre o papel e as tarefas da UDP e aprofundará o debate sobre a evolução da situação europeia.
 
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